Cerca de um milhão de crianças europeias vivem em instituições que muitas vezes não garantem a protecção dos mais novos, transformando--os em "vítimas de repetidos abusos". Por outro lado, os processos judiciais relativos a crianças vítimas de abuso sexual em Portugal podem ter efeitos mais graves nas crianças do que a própria violação, apesar de já existirem formas de o impedir.
São alertas de um sociólogo islandês, Brasi Gudbrandsson, que se encontra desde domingo em Lisboa a participar no Encontro Regional Europeu da Sociedade Internacional para a Prevenção do Abuso e Negligência de Crianças (ISPCAN).
Director-geral da Agência Governamental de Protecção da Criança da Islândia, Brasi Gudbrandsson adiantou que, de acordo com um estudo realizado em 2002, "apesar de existirem provas médicas de que as crianças foram abusadas, só cerca de metade teve tratamento adequado", garantindo que "a maioria não recebe qualquer acompanhamento".
Em declarações aos jornalistas à margem do encontro, o sociólogo especificou que as crianças institucionalizadas são vítimas de "abusos físicos, mentais e sexuais" praticados por "miúdos mais velhos ou funcionários das instituições".
Vários estudos indicam que o número de crianças institucionalizadas tem vindo a aumentar. "A UNICEF fala em cerca de 700 mil crianças, mas uma associação não governamental inglesa aponta para mais de um milhão e duzentas mil crianças", afirmou Brasi Gudbrandsson.
O tratamento judiciário dos casos de abusos sexuais de menores é outro problema que o sociólogo considera complexo. Desde serviços de saúde, agentes policiais, advogados, assistentes sociais e tribunais, "a criança é obrigada a reviver vezes sem conta a violação", o que, segundo diversos estudos, "pode ter efeitos mais graves que a própria violação".
Além da "revitimização", as repetidas entrevistas aumentam o nível de ansiedade e podem levar à distorção da realidade, garante. "A criança pode mudar a história. Pode responder no sentido de dizer apenas o que pensa ser a 'resposta correcta' que o adulto quer ouvir. É necessária uma abordagem comum relativamente à questão", disse à agência Lusa, à margem do evento.
A conferência sobre abuso e negligência de crianças é organizada pela Sociedade Internacional para a Prevenção do Abuso e Negligência de Crianças e Associação de Mulheres contra a Violência.
Ler noticia integral em Diário de Noticias, de 20-11-2007.
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