segunda-feira, junho 05, 2006

Casamentos atingem nível mais baixo desde 1940

Há cada vez menos casamentos em Portugal. No ano passado celebraram-se apenas 48 667 matrimónios, um número tão baixo que só tem paralelo com os valores de 1940. A diminuição do número de pessoas que decide casar é uma tendência que se repete consecutivamente desde 1999 - 2005 foi o sétimo ano sucessivo a registar esta quebra.
Anália Torres, socióloga e autora do livro Casamento em Portugal, não tem uma visão dramática destes números do INE. Para a estudiosa e presidente da Associação Portuguesa de Sociologia, trata-se, em boa medida, de uma questão demográfica: "O facto de haver menos casamentos terá já que ver com o envelhecimento da população. Há menos pessoas em idade de casar. São dados comuns a todos os países da Europa."
Já o sociólogo Pedro Moura Ferreira, investigador do Instituto de Ciências Sociais, fala numa "certa descrença no casamento", que se prende com uma "tendência para a individualização e um não comprometimento".
Casamento não está em crise.
O peso dos números não leva Anália Torres a falar em crise: "O casamento não está em crise, até porque quem se divorcia normalmente volta a casar. Aliás, num estudo que fiz em 1994, havia muito mais homens a recasar depois de um divórcio. Hoje, as mulheres também estão a recasar. O que prova que, efectivamente, as pessoas insistem." O que também existe, sublinha a socióloga, é uma forma diferente de ver o casamento: "As pessoas tendem cada vez mais a partir para uma coabitação e, só depois, para um casamento.
"Experimentar para ver no que dá. Foi mais ou menos com este espírito que Marta Gonçalves e João Silva, ambos com 27 anos, ambos de Lisboa, decidiram, justamente em 2005, "juntar os trapos" sem, porém, juntar os nomes num papel oficial. "O casamento para nós não faz grande sentido. É um papel, uma formalidade. Quanto muito é uma festa (geralmente cara) para exibir um vestido e encher a barriga dos convida- dos", diz Marta. O namorado não só concorda como acrescenta: "Nós gostamos um do outro e acreditamos que vamos ficar juntos. Só não sabemos se é para sempre. E se não for, um divórcio só servirá para complicar mais as nossas vidas e acrescentar dor à dor de uma separação."
Casamento não é para sempre.
Para o sociólogo Pedro Moura Ferrreira esta é a questão central. As pessoas deixaram de ver o casamento como a única forma adequada de unir os seus destinos: "Hoje, a união de facto não é vista como algo de ilegítimo. E aí, a Igreja Católica e os valores católicos do casamento perderam força. Aliás, o número de casamentos religiosos também tem vindo a diminuir. Os casamentos, ao todo, têm sofrido uma quebra e, dentro destes, também os católicos têm diminuído muito".
Definitivamente, o casamento deixou de ser para toda a vida. Passou a ser, como dizia do amor o poeta brasileiro Vinicius de Moraes, "eterno enquanto dura": "As pessoas deixaram de dizer que o casamento é para toda a vida. Já não o dizem assim, dessa forma absoluta e inquestionável. Agora o que se diz (e pensa) é que o casamento pode ser, na melhor das hipóteses, para toda a vida. É esta perda de centralidade do casamento na vida das pessoas que faz com que os números sejam cada vez mais reduzidos."
Mas se é possível falar em perda de importância do casamento, o mesmo não se pode dizer da conjugalidade: "As pessoas sentem-se menos constrangidas a casar, mas continuam a preferir viver com alguém. O que se passa é que a conjugalidade se desligou do casamento", explica Pedro Moura Ferreira.
Ainda assim, a percentagem das uniões de facto em Portugal está longe da que se verifica em outros países da Europa. Anália Torres não tem dúvidas de que a mudança de mentalidades no nosso país levou a um aumento do número de pessoas que coabitam em vez de casar, que há mais gente a viver em conjugalidade antes de avançar para o matrimónio, mas não deixa de referir que a realidade portuguesa está longe da realidade europeia: "Na União Europeia, 20% da população adulta vive em união de facto. Em Portugal o número fica-se nos 4%. Os escandinavos são os que têm mais gente a viver em união de facto, com uma percentagem que ultrapassa os 40%."
Ler noticia integral em Diário de Noticias, de 5-06-2006

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