quinta-feira, setembro 28, 2006

Caso de pai que matou filho pode ser considerado suicídio altruísta

O caso do homem que matou o filho, de sete anos, e tentou suicidar-se, em Proença-a-Nova, parece estar a suscitar o interesse da comunidade científica, ao nível da psiquiatria forense, por poder configurar uma situação de "suicídio altruísta", um conceito desenvolvido pelo sociólogo Émile Durkheim, no final do século XIX. Basicamente, o suicídio altruísta pressupõe a morte de "alguém que se ama" na convicção de que, dessa forma, se está a preservar essa pessoa de "males maiores" que estejam para vir.

Por ser um caso "raro", este indivíduo, que matou a tiro o filho e de seguida tentou, por duas vezes, suicidar-se, primeiro com um tiro e depois embatendo contra um camião, já foi observado por vários especialistas. Primeiro nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), para onde foi transferido no próprio dia em que tudo aconteceu, e no Hospital Psiquiátrico Sobral Cid, onde ainda se encontra internado.

Este tema do suicídio altruísta será abordado nas 6.ª Jornadas sobre Comportamentos Suicidários, que começam, hoje, no Luso. O workshop "Suicídio altruísta, matar e morrer por amor?", apresentado pelos psiquiatras Carlos Braz Saraiva e Zulmira Santos, visa precisamente a exploração do conceito desenvolvido por Durkheim, sem, no entanto, abordar casos concretos.

Falando da questão em abstracto, o psiquiatra dos HUC e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Carlos Braz Saraiva (que hoje lança o seu livro "Estudos sobre o parasuicídio - o que leva os jovens a espreitar a morte"), lembra que o suicídio altruísta resulta, como era definido por Durkheim, da "insuficiente individualização e alto grau de integração social", acreditando a pessoa que, ao provocar a morte a alguém com quem tem uma relação forte, "o está a preservar de males que estão para acontecer".

Estes indivíduos têm, normalmente, uma "visão distorcida do eu, do mundo e do futuro" (designada tríade cognitiva de Beck). É dentro desta "construção mental distorcida que podem surgir comportamentos anómalos aos olhos de terceiros, mas que para eles fazem todo o sentido". Os suicídios altruístas são, no entanto, "situações raras" e que, segundo Carlos Saraiva, "pressupõem a convicção da parte do protagonista de que está a zelar pelo bem da outra pessoa". O suposto final da história "deve ser o suicídio depois de um ou mais homicídios", geralmente, de pessoas com as quais o autor tem relacionamentos muito fortes.

Do ponto de vista psicopatológico, o psiquiatra acrescenta que estes indivíduos podem sofrer designadamente de três tipos de patologia psicóticos (por exemplo esquizofrénicos); psicopatas (distúrbios da personalidade); deprimidos (desesperança).

Ler artigo integral em Jornal de Noticias, de 28-09-2006.

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